Que te parece, hem? — perguntou logo D. Felicidade, a quem a sua ideia ocupava tiranicamente.
—
O quê?
—
Achas que mande o homem a Tui?
Luísa encolheu os ombros; veio-lhe um tédio de tais enredos de bruxaria, misturados a amores caturras. Na vaidade da sua intriga romântica, achava repugnante aquele sentimentalismo senil.
—
Tolices! — disse com muito desdém.
—
Oh, filha! Não me digas, não me digas! — acudiu desolada D.
Felicidade.
—
Bem, então manda, manda! — fez Luísa, já impaciente.
—
Mas são sete moedas! — exclamou D. Felicidade, quase chorosa.
Luísa pôs-se a rir.
—
Por um marido? Acho barato. .
—
E se a sorte falha?
—
Então é caro!
D. Felicidade deu um grande "ai!" Estava muito infeliz, naquela hesitação entre os impulsos da concupiscência e as prudências da economia. Luísa teve pena dela, e, tirando um vestido do guarda-roupa:
—
Deixa lá, filha! Não hão de ser necessárias bruxarias!. .
D. Felicidade ergueu os olhos ao céu.
—
Vais sair? — perguntou melancolicamente.
—
Não.
D. Felicidade propôs-lhe então que viesse com ela à Encarnação. Visitavam a Silveira, coitada, que tinha um furúnculo! E viam a armação da igreja para a festa; estreava-se o frontal novo, um primor!
—
E estou também com vontade de ir rezar uma estaçãozinha, para aliviar cá por dentro — disse, suspirando.
Luísa aceitou. Apetecia-lhe ir ver altares alumiados, ouvir o ciciar de rezas no coro, como se os requintes devotos dissessem bem com as suas disposições sentimentais. Começou a vestir-se depressa.
—
Como tu estás gorda, filha! — exclamou D. Felicidade admirada, vendo-lhe os ombros, o colo.
Luísa diante do espelho olhava-se, sorria com o seu sorriso quente, contente das suas linhas, acariciando devagarinho, voluptuosamente, a pele branca e fina.
—
Redondinha — disse, namorando-se.
—