De repente veio-lhe uma ideia: se fosse ter com D. Felicidade, abrir-se com ela! D. Felicidade era espalhafatona, um pouco tonta, mas era uma mulher de idade, íntima de Luísa; tinha mais autoridade, mais habilidade mesmo..
Decidiu-se logo; tomou um trem, foi à Rua de São Bento.
A criada de D. Felicidade apareceu-lhe, desolada e lacrimosa:
—
Pois não sabe?
—
Ai! Até admira!
—
Mas o quê?
—
A senhora! Uma desgraça assim! Torceu um pé na Encarnação, deu uma n estado muito mal, muito mal.
—
Aqui?
—
Na Encarnação. Nem pode sair. Está com a senhora D. Ana Silveira.
Uma desgraça assim! E está num frenesi!
—
Mas quando foi?
—
Anteontem à noite.
Sebastião saltou para o trem, mandou bater para casa de Luísa. D. Felicidade, doente, na Encarnação! Mas então Luísa podia bem sair todos os dias! Ia vê-la, fazer-lhe companhia, tratar dela!. .
A vizinhança não tinha que rosnar! Ia ver a pobre doente!. .
Eram duas horas quando a parelha estacou à porta de Luísa. Encontrou-a, que descia a escada, vestida de preto, de luva gris-perle, com um véu negro.
—
Ah! Suba, Sebastião, suba! Quer subir?
Parara nos degraus, com uma corzinha no rosto, um pouco embaraçada.
—
Não, obrigado. Vinha dizer-lhe. . Não sabe? A D. Felicidade..
—
O quê?
—
Torceu um pé. Está mal.
—
Que me diz?
Sebastião deu os pormenores.
—
Vou lá já.
—
Deve ir. Eu não posso ir, não entram homens. Coitada! Diz que está mal. — Acompanhou-a até à esquina da rua, ofereceu-lhe mesmo a tipoia: —
E muitos recados que tenho pena de a não ver!. . Pobre senhora! E diz que está num frenesi!