E abriu a porta. Basílio correu a ela, prendeu-a por um braço.
—
Luísa, Luísa! O que queres tu fazer? Não podemos romper assim!
Escuta. .
—
Fujamos então, salva-me de todo! — gritou ela, abraçando-o ansiosamente.
—
Caramba! Se te estou a dizer que não é possível!
Ela atirou com a porta, desceu as escadas correndo. O cupê esperava-a.
—
Para o Rossio — disse.
E deitando-se para o canto da carruagem, rompeu a chorar, convulsivamente.
Basílio saiu do Paraíso muito agitado. As pretensões de Luísa, os seus terrores burgueses, a trivialidade reles do caso, irritavam-no tanto, que tinha quase vontade de não voltar ao Paraíso, calar-se, e deixar correr o marfim! Mas tinha pena dela, coitada! E depois, sem a amar, apetecia-a; era tão bem feita, tão amorosa; as revelações do vício davam-lhe um delírio tão adorável! Um conchegozinho tão picante enquanto estivesse em Lisboa.. Maldita complicação! Ao entrar no hotel, disse ao seu criado:
— Quando vier o senhor Visconde Reinaldo, que vá ao meu quarto.
Estava alojado no segundo andar, com janelas para o rio. Bebeu um cálice de conhaque e estirou-se no sofá. Ao pé, na jardineira, tinha o seu buvar com um largo monograma em prata sob a coroa de conde, caixas de charutos, os seus livro — Mademoiseile Giraud, ma femme; La vierge de Mabilie; Ces friponnes!; Mémoires secrètes d'une femme de chambre; Le chien d'arrêt; Manuel du chasseur, números do Fígaro, a fotografia de Luísa, e a fotografia de um cavalo.
E soprando o fumo do charuto, começou a considerar, com horror, a
"situação"! Não lhe faltava mais nada senão partir para Paris, com aquele trambolhozinho! Trazer uma pessoa, havia sete anos, a sua vida tão arranjadinha, e patatrás! Embrulhar tudo, porque à menina lhe apanharam a
carta de namoro e tem medo do esposo! Ora o descaro! No fim, toda aquela aventura desde o começo fora um erro! Tinha sido uma ideia de burguês inflamado ir desinquietar a prima da Patriarcal. Viera a Lisboa para os seus negócios; era tratá-los, aturar o calor e o boeuf à la mode do Hotel Central, tomar o paquete, e mandar a pátria ao inferno!.. Mas não, idiota! Os seus negócios tinham-se concluído — e ele, burro, ficara ali a torrar em Lisboa, a gastar uma fortuna em tipoias para o Largo de Santa Bárbara para quê? Para uma daquelas! Antes ter trazido a Alphonsine!
Que, verdade, verdade, enquanto estivesse em Lisboa o romance era agradável, muito excitante; porque era muito completo! Havia adulteriozinho, o incestozinho. Mas aquele episódio agora estragava tudo! Não, realmente, o mais razoável era safar-se!
A sua fortuna tinha sido feita com negócio de borracha, no alto Paraguai; a grandeza da especulação trouxera a formação de uma companhia, com capitais brasileiros; mas Basílio e alguns engenheiros franceses queriam resgatar as ações brasileiras, que eram um empecilho, formar em Paris uma outra companhia, e dar ao negócio um movimento mais ousado. Basílio partira para Lisboa entender-se com alguns brasileiros, e comprara as ações habilmente.
A prolongação daquele incidente amoroso tornava-se uma perturbação na sua vida prática. . E, agora que a aventura tomava um aspeto secante, convinha passar o pé!
A porta abriu-se e o Visconde Reinaldo entrou — afogueado, de lunetas azuis, furioso.
Vinha de Benfica! Morto, absolutamente morto com aquele calor, de um país de negros. Tivera a estúpida ideia de ir visitar uma tia — que o fizera logo membro de uma associação para não sei que diabo de que creche, e que lhe pregara moral! Também, que ideia de colegial — ir visitar a tia! Porque realmente, se havia uma coisa que lhe causasse repugnância, eram as ternuras de família!
—
E tu, que queres tu? Eu vou-me meter num banho até ao jantar!
—
Sabes o que me sucede? — disse Basílio, erguendo-se.
—
O quê?
—
Imagina. O caso mais estúpido.
—
O marido apanhou-te?
—
Não, a criada!
—
Shocking! — exclamou Reinaldo com nojo.
Basílio contou miudamente "o caso". E cruzando os braços diante dele:
—
E agora?
—
Agora é safar-te! E levantou-se.
—
Onde vais tu?
—
Vou ao banho.
Que esperasse, que diabo; queria falar com ele..
—
Não posso! — exclamou Reinaldo com um egoísmo frenético. Vem tu cá abaixo! Posso perfeitamente conversar na água!
Saiu, berrando por William, o seu criado inglês.