Por que haveria eu de estar triste? ...
- É preciso, disse baixinho o príncipe, que cumpras a tua promessa. Ele estava, de novo, sentado junto de mim.
- Que promessa?
- Tu sabes ... a mordaça do meu carneiro ... eu sou responsável pela flor!
Tirei do bolso as minhas tentativas de desenho. o principezinho os viu e disse rindo:
- Teus baobás parecem um pouco repolhos...
- Oh!
Eu estava tão orgulhoso dos meus baobás!
- Tua raposa, as orelhas dela parecem chifres, são compridas demais.
Ele riu outra vez.
- Tu és injusto, meu bem, eu só sabia desenhar jibóias abertas e fechadas ...
Não faz mal, disse ele, as crianças entendem.
Rabisquei, portanto, uma pequena mordaça. Mas sentia, ao entregá-la, um aperto no coração:
Tu tens projetos que eu ignoro...
Ele não me respondeu. Mas disse:
- Lembras-te da minha queda na Terra? Amanhã será o aniversário...
Depois, após um silêncio, acrescentou:
- Caí pertinho daqui ...
E ficou vermelho ao dizê-lo.
E de novo, sem compreender porque, eu sentia um estranho pesar. No entanto, ocorreu-me a pergunta:
- Então não foi por acaso que vagavas sozinho, quando te encontrei, há oito dias, a milhas e milhas de qualquer região habitada!
Não estarias voltando ao ponto da queda?
O principezinho ficou vermelho de novo.
E eu acrescentei, hesitando:
- Terá sido por causa do aniversário? ...
O principezinho ficou mais vermelho. Não respondia nunca às perguntas. Mas quando a gente fica vermelho, não é o mesmo que dizer "sim"?
- Ah! disse-lhe eu, eu tenho medo ...
Mas ele respondeu:
- Tu deves agora trabalhar. Ir em busca do teu aparelho. Espero-te aqui. Volta amanhã de tarde. . .
Mas eu não estava tranquilo. Lembrava-me da raposa.
A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...
XXVI
Havia, ao lado do poço, a ruína de um velho muro de pedra.
Quando voltei do trabalho, no dia seguinte, vi, de longe, o principezinho sentado no alto, com as pernas balançando. E eu o escutei dizer:
Tu não te lembras então? Não foi bem aqui o lugar Uma outra voz devia responder-lhe, porque replicou em seguida:
- Não; não estou enganado. O dia é este, mas não o lugar...
Prossegui o caminho para o muro. Continuava a não ver ninguém. No entanto o principezinho replicou novamente: Está bem. Tu verás onde começa, na areia, o sinal dos meus passos. Basta esperar-me. Estarei ali esta noite.
Eu me achava a vinte metros do muro e continuava a não ver nada. O principezinho disse ainda, após um silêncio:
- O teu veneno é do bom? Estás certa de que não vou sofrer muito tempo?