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Add to favorite "O Pequeno Príncipe" - Antoine de Saint-Exupéry

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Mas ele estava preocupado.

- Eu digo isto ... também por causa da serpente. É preciso que não te morda. As serpentes são más. Podem morder por gosto ...

- Eu não te deixarei.

Mas uma coisa o tranqüilizou:

- Elas não tem veneno, é verdade, para uma segunda mordida...

Essa noite, não o vi pôr-se a caminho. Evadiu-se sem rumor.

Quando consegui apanhá-lo, caminhava decidido, a passo rápido.

Disse-me apenas:

- Ah! estás aqui ...

E, ele me tomou pela mão. Mas afligiu-se ainda:

- Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu parecerei morto e não será verdade...

Eu me calava.

Tu compreendes. É longe demais. Eu não posso carregar esse corpo. É muito pesado.

Eu me calava.

- Mas será como uma velha casca abandonada. Uma casca de árvore não é triste...

Eu me calava.

Perdeu um pouco da coragem, Mas fez ainda um esforço: Será bonito, sabes? Eu também olharei as estrelas.

Todas as estrelas serão poços com uma roldana enferrujada.

Todas as estrelas me darão de beber...

Eu me calava.

- Será tão divertido! Tu terás quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes ...

E ele se calou também, porque estava chorando...

- É aqui. Deixa-me dar um passo sozinho.

E sentou-se, porque tinha medo.

Disse ainda:

- Tu sabes ... minha flor ... eu sou responsável por ela! Ela é tão frágil! Tão ingênua! Tem quatro espinhos de nada para defende-la do mundo ...

Eu sentei-me também, pois não podia mais ficar de pé.

Ele disse:


- Pronto ... Acabou-se ...

Hesitou ainda um pouco, depois ergueu-se. Deu um passo. Eu ...

eu não podia mover-me.

Houve apenas um clarão amarelo perto da sua perna.

Permaneceu, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarinho como uma árvore tomba.

Nem fez sequer barulho, por causa da areia.

XXVII

E agora, certamente, já se vão seis anos ... jamais contara essa história. Os camaradas ficaram contentes de ver-me são e salvo. Eu estava triste, mas dizia: É o cansaço...

Agora já me consolei um pouco. Mas não de todo. Sei que ele voltou ao seu planeta; pois, ao raiar do dia, não lhe encontrei o corpo.

Não era um corpo tão pesado assim ...

E gosto, à noite, de escutar as estrelas. Quinhentos milhões de guizos ...

Mas eis que sucede uma coisa extraordinária. Na mordaça que desenhei para o principezinho, esqueci de juntar a correia! Não poderá jamais prendê-la no carneiro. E eu pergunto então: "Que se terá passado no planeta? Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor."

Ora eu penso: "Certamente que não! O principezinho encerra a flor todas as noites na redoma de vidro e vigia bem o carneiro." Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente.

Ora eu digo: "Uma vez ou outra a gente se distrai e basta isto!

Esqueceu uma noite a redoma de vidro ou o carneiro saiu de mansinho, sem que fosse notado. Então os guizos se transformam todos em lágrimas.

Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o principezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa ...

Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente ...

E nenhuma pessoa grande jamais compreenderá que isso tenha tanta importância!


Esta é, para mim, a mais bela paisagem do mundo, e também a mais triste. É a mesma da página precedente. Mas desenhei-a de novo para mostrá-la bem. Foi aqui que o principezinho apareceu na terra, e desapareceu depois.

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