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Add to favorite "A Moreninha" - Joaquim Manuel de Macedo

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- Pois bem, basta; mas eu vejo que vossa face está umedecida; seria uma lágrima se o relento da noite não molhasse também a rosa. Quereis descansar, sem dúvida; poderei gozar o prazer de conduzir-vos até à porta da gruta?...

- Sim, senhor.

Duas guerreiras tinham sido batidas; só a curiosidade retinha as outras: Augusto se chegou para elas e falou a D. Clementina:

- Agora nós, senhora.

Ela deixou-se levar pela mão até junto da fonte, e o estudante começou:

- Quereis fatos de anteontem ou da noite passada, senhora?

- Eu não entendo o que o senhor quer dizer.

- Pergunto, senhora, se vos dá gosto que eu vos repita o que convosco se passou, quando tomáveis um sorvete ao lado de um jovem de cabelos negros... o que convosco conversou o meu colega Filipe, quando tomáveis chá?

- Eu não preciso saber nada disso.

- Então dir-vos-ei o que mais vos interessa, sossegarei mesmo os vossos cuidados e os do Sr.

Filipe, a respeito da perda de certo objeto...

- Sr. Augusto!...

- Senhora, foi a fada desta misteriosa fonte quem vos roubou um precioso embrulho que continha uma trança de vossos cabelos e que deveria ser achado embaixo da quarta roseira da rua que vai ter ao caramanchão, e essa trança pára, hoje, em minhas mãos, ei-la aqui...

- Oh! dê-ma.

- Não preferis antes que eu a entregue ao feliz para quem a destináveis?

- Não, eu lhe peço que ma dê.

- Eu estou pronto a obedecer-vos, senhora, mas só na hora de minha partida. Vós quatro queríeis zombar de mim; não concebo até onde iria a vossa vingança; preciso de reféns que assegurem a paz entre nós; estes são meus; quereis saber mais alguma coisa?

- Eu já sei que o senhor sabe demais!

- Então...

- Quer, como as duas primeiras, oferecer-me a mão e obrigar-me a desamparar o campo?

- Venceu, senhor, e sou eu que lhe peço que me acompanhe até à porta da gruta.

- Eu estou pronto, senhoras, para servir-vo em tudo.

Só restava D. Joaninha, era a vez dela.

- Eu vos deixei para o fim, disse Augusto, porque a vós é que eu mais admiro, porque vós sois exatamente a única dentre elas que tem amado melhor e que mais infeliz tem sido, eu vos explicarei isto. Sois, todavia, um pouco excessiva em exigências...

- Que quer dizer, Sr. Augusto?

- Que quereis muito, quando ordenais a um estudante que vos escreva quatro vezes por semana, pelo menos; que passe por defronte de vossa casa quatro vezes por dia; que vá a miúdo ao teatro e aos bailes que freqüentais, e até que não fume charutos de Havana nem de Manilha, por ser falta de patriotismo.

- Quem lhe disse isso, senhor!?

- A fada, senhora, que sabe que amais a um moço, a quem dais a honra de chamar querido primo.

- É uma vil traição!

- Exatamente diz o mesmo a nossa boa fada, e ainda mais, senhora: quer que eu vos aconselhe a que desprezeis esse jovem infiel, que não sabe pagar o vosso amor: eu poderia dar-vos provas...

- Não as tenho eu bastante, exclamou D. Joaninha com sentimento, quando lhe ouço repetir o que deveria ser sabido dele e de mim somente?

Augusto ia falar; ela o interrompeu.

- Senhor, eu agradeço o benefício que recebi; o senhor quis zombar de mim, como das outras,

mas não o fez; ao contrário, atalhou em princípio uma grande enfermidade, que, talvez, fosse daqui a pouco tempo incurável! Eu galanteio também às vezes, porém, sei amar até o extremo. Adeus, senhor!

eu posso apenas agradecer-lhe, dizendo que tenho tanta confiança na sua discrição e no seu caráter, que nem mesmo lhe recomendo o cuidado do meu segredo.

D. Joaninha ia deixar a gruta; Augusto lhe ofereceu o braço.

- Agradecida, disse ela; permita que eu entre só em casa.

Augusto ficou só. Esteve alguns momentos lembrando-se da cena que acabava de ter lugar; finalmente disse, soltando uma risada:

- Vieram buscar lã e saíram tosquiadas!

E já estava para pôr o pé fora da gruta, quando uma voz branda e sonora o suspendeu, dizendo:

Are sens

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