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Ora, o tal bichinho chamado amor é capaz de amoldar seus escolhidos a todas as circunstâncias e de obrigá-los a fazer quanta parvoíce há neste mundo. O amor faz o velho criança, o sábio doido, o rei humilde cativo; faz mesmo, às vezes, com que o feio pareça bonito e o grão de areia um gigante. O

amor seria capaz de obrigar um coxo a brincar o tempo-será, a um surdo o companheiro companhão e a um cego o procura quem te deu. O amor foi inventor das cabeleiras, dos dentes postiços que... mas, alto lá! que isto é bulir com muita gente; enfim, o amor está fazendo um estudante do quinto ano de Medicina passar um dia inteiro brincando com bonecas.

Com efeito, Augusto já sabe de cor e salteado todos os nomes dos membros daquela família; conhece os diversos graus de parentesco que existem entre eles, acalenta as bonecas pequenas, despe umas e veste outras, conversa com todas, examina o guarda-roupa, batiza, casa, em uma palavra, dobra-se aos prazeres de sua bela mestra, como uma varinha ao vento.

No entanto a Sra. D. Ana os observa cuidadosa; tem simpatizado muito Augusto, mas nem por isso quer entregar todo o futuro do objeto que mais ama no mundo ao só abrigo do nobre caráter e sérias qualidades que tem reconhecido no mancebo.

Como de costume, a tarde deve de ser empregada em passeios à borda do mar e pelo jardim. O

maior inimigo do amor é a civilidade. Augusto o sentiu, tendo de oferecer seu braço à Sra. D. Ana; mas esta lhe fez cair a sopa no mel, rogando-lhe que o reservasse para a sua neta.

Filipe acompanhava sua avó e na viva conversação que entretinham, o nome de Augusto foi mil vezes pronunciado.

Uma vez Augusto e Carolina, que iam adiante, ficaram muito distantes do par que os seguia.

A mão da bela Moreninha tremia convulsamente no braço de Augusto e este apertava às vezes contra seu peito, como involuntariamente, essa delicada mão; alguns suspiros vinham também perturbá-los mais e havia dez minutos eles se não tinham dito uma palavra.

Em uma das ruas do jardim duas rolinhas mariscavam; mas, ao sentir passos, voaram e assentando-se não longe, em um arbusto, começaram a beijar-se com ternura; e esta cena se passava aos olhos de Augusto e Carolina!...

Igual pensamento, talvez brilhou em ambas aquelas almas, porque os olhares da menina e do moço se encontraram ao mesmo tempo e os olhos da virgem modestamente se abaixaram e em suas faces se acendeu um fogo, que era o do pejo. E o mancebo, apontando para as pombas, disse:

- Elas se amam!

E a menina murmurou apenas:

- São felizes!

- Pois acredita que em amor possa haver felicidade?

- Às vezes.

- Acaso, já tem a senhora amado?

- Eu?!... e o senhor?!

- Comecei a amar há poucos dias.

A virgem guardou silêncio e o mancebo, depois de alguns instantes, perguntou tremendo:

- E a senhora já amou também?

Novo silêncio; ela pareceu não ouvir, mas suspirou. Ele falou menos baixo:

- Já ama também?...

Ela abaixou ainda mais os olhos e com voz quase extinta disse:

- Não sei... talvez...

- E a quem?

- Eu não perguntei a quem o senhor amava.

- Quer que lhe diga?...

- Eu não pergunto.

- Posso eu fazê-lo?

- Não... Não lho impeço.

- É a senhora.

D. Carolina fez-se cor-de-rosa e só depois de alguns instantes pôde perguntar, forcejando um sorriso:

- Por quantos dias?

- Oh! para sempre!... respondeu Augusto, apertando-lhe vivamente o braço.

Depois ainda continuou:

- E a senhora não me revela o nome feliz?...

- Eu não... não posso...

- Mas por que não pode?

- Porque não devo.

- E nunca o dirá?!

- Talvez um dia.

- E quando?...

- Quando estiver certa que ele não me ilude.

- Então... ele é volúvel?...

- Ostenta sê-lo...

- Oh!... pelo céu!... acabe de matar-me!... basta o nome pronunciado bem em segredo, bem no meu ouvido, para que ninguém o possa ouvir, nem a brisa o leve... Pelo céu!...

- Senhor!...

- Um só nome que peço!...

- É impossível... eu não posso!...

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