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— Será uma lembrança que teremos de Peri.

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— Para ti, que para mim a melhor lembrança és tu. Se não fosse ele, podia eu agora apertar-te nos meus braços?

— Sabeis que tenho vontade de chorar só de pensar que ele se vai?

— É natural, minha filha, as lágrimas são um bálsamo que Deus deu à fraqueza da mulher, e que negou à força do homem.

O fidalgo separou-se de sua filha, e chegou-se à porta onde se achavam ainda sua mulher, Isabel e Aires Gomes.

— Que decidistes, Sr. D. Antônio? perguntou a dama.

— Decidi fazer-vos a vontade, para sossego vosso e descanso meu. Hoje mesmo ou amanhã Peri deixará esta casa; mas enquanto ele aqui estiver, eu não quero, disse carregando ligeiramente sobre aquele monossílabo, que se lhe diga uma palavra sequer de desagrado. Peri sai desta casa porque lho peço, e não porque isto seja-lhe ordenado por alguém. Entendeis, minha mulher?

D. Lauriana, que compreendia o que havia de energia e resolução naquela imperceptível entonação dada pelo fidalgo a uma simples frase, inclinou a cabeça.

— Incumbo-me de falar eu mesmo a Peri! Dir-lhe-ás de minha parte, Aires Gomes, que venha ter comigo.

O escudeiro inclinou-se; o fidalgo que se ia retirando, voltou-se:

— Ah! esquecia-me. Mandarás encher este lindo animal que desejo conservar; será uma curiosidade para o meu gabinete de armas.

D. Lauriana fez à sorrelfa uma careta de nojo.

— E servirá para que minha mulher se habitue com sua vista, e tenha menos medo de onças. D. Antônio afastou-se.

A dama pôde então ir riçar os seus cabelos, e preparar o seu toucado domingueiro; tinha alcançado uma importante vitoria. Peri ia finalmente ser expulso dessa casa, onde na sua opinião nunca devera ter entrado.

Enquanto isto passava, Cecília, ao separar-se de seu pai, voltara o canto da casa para entrar no jardim, e encontrara Álvaro que passeava inquieto e pensativo.

— D. Cecília! disse o moço.

— Oh! deixai-me Sr. Álvaro! respondeu Cecília sem parar.

— Em que vos ofendi eu para que me trateis assim?

— Desculpai-me, estou triste; em nada me ofendestes.

— É que quando se cometeu uma falta...

— Uma falta? perguntou a menina admirada.

— Sim! respondeu o moço abaixando os olhos.

— E que falta cometestes vós, Sr. Álvaro?

— Desobedeci-vos.

— Ah! é grave! disse a moça com um meio sorriso.

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— Não zombeis, D. Cecília! Se soubésseis que inquietações isto me tem feito passar! Arrependo-me mil vezes do que pratiquei, e contudo parece-me que era capaz de praticá-lo de novo.

— Mas, Sr. Álvaro, esqueceis que falais de uma coisa que ignoro; sei apenas que se trata de uma desobediência!

— Lembrai-vos que ontem me mandastes guardar um objeto, que...

— Sim, atalhou a moça corando; um objeto que...

— Que vos pertencia, e que eu contra vontade vossa restitui.

— Como! que dizeis?

— Oh! perdoai! foi uma ousadia! mas...

— Mas enfim eu não entendo nem uma palavra de tudo isto! exclamou a moça com um movimento de impaciência.

Álvaro vencendo enfim o seu acanhamento contou rapidamente o que tinha feito na véspera à noite.

Cecília ouvindo-o, ia-se tornando séria.

— Sr. Álvaro, disse ela num tom de exprobação, fizestes mal em praticar semelhante ação, muito mal. Que ninguém o saiba ao menos.

— Eu juro pela minha honra!

— Não basta; vis mesmo desfareis o que fizestes. Não abrirei aquela janela enquanto houver ali um objeto que não me veio de meu pai, e em que não posso tocar.

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