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— Esperai. Posso salvar-vos; mas isto não quer dizer que esteja disposto a fazê-lo.

— Por que razão?

— Por quê?... Porque todo o serviço tem o seu preço.

— Que exigis então? disse Martim Vaz.

— Exijo que me acompanheis, que me obedeçais cegamente, suceda o que suceder.

— Podeis ficar descansado, disse um dos aventureiros; eu respondo pelos meus companheiros.

— Sim! exclamaram os outros.

— Bem! Sabeis o que vamos fazer, já, neste momento?

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— Não; mas vós nos direis.

— Escutai! Vamos acabar de demolir esta parede e atirá-la dentro; entrar nesta sala, e matar tudo quanto encontrarmos, menos uma pessoa.

— E essa pessoa...

— É a filha de D. Antônio de Mariz, Cecília. Se algum de vós deseja a outra, pode tomá-la; eu vo-la dou.

— E depois disso feito?

— Tomamos conta da casa; reunimos os nossos companheiros e atacamos os Aimorés.

— Mas isto não nos salvará, retrucou um dos aventureiros; há pouco dissestes que não temos força para resistir-lhes.

— Decerto! acudiu Loredano; não lhes resistiremos, mas nos salvaremos.

— Como? disseram os aventureiros desconfiados.

O italiano sorriu.

— Quando disse que atacaremos o inimigo, não falei claro; queria dizer que os outros o atacarão.

— Não vos entendo ainda; falai mais claro.

— Ai vai pois. Dividiremos os nossos homens em duas bandas; nós e mais alguns pertenceremos a uma que ficará sob a minha obediência.

— Até aqui vamos bem.

— Isto feito uma das bandas sairá da casa para fazer uma sortida enquanto os outros atacarão os selvagens do alto do rochedo, é um estratagema já velho e que deveis conhecer: meter o inimigo entre dois fogos.

— Adiante; continuai.

— Como a expedição de sair é a mais perigosa e arriscada, tomo-a sobre mim; vós me acompanhais e marchamos. Somente em lugar de marchar sobre o inimigo, marchamos sobre o mais próximo povoado.

— Oh! exclamaram os aventureiros.

— Sob pretexto de que os selvagens podem cortar-nos a entrada da casa por alguns dias, levamos provisão de viveres. Caminhamos sem parar, sem olhar atrás; e prometo-vos que nos salvaremos.

— Uma traição! gritou um dos aventureiros. Entregarmos nossos companheiros nas mãos dos inimigos!

— Que quereis? A morte de uns é necessária para a vida dos outros; este mundo é assim e não seremos nós que o havemos de emendar; andemos com ele.

— Nunca! Não faremos isso! É uma vilania!

— Bom, respondeu Loredano friamente, fazei o o que vos aprouver. Ficai; quando vos arrependerdes será tarde.

— Mas ouvi...

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— Não; não conteis já comigo. Julguei que falava a homens a quem valesse salvar a vida; vejo que me enganei. Adeus.

— Se não fora uma traição...

— Que falais em traição!... replicou o italiano com arrogância. Dizei-me, credes vós que algum escapará daqui na posição em que nos achamos? Morreremos todos. Pois se assim é, mais vale que se salvem alguns.

Os aventureiros pareceram abalados por este argumento.

— Eles mesmos, continuou Loredano, a menos de serem egoístas, não terão o direito de se queixarem; e morrerão com a satisfação de que sua morte foi útil aos seus companheiros, e não estéril como deve ser se ficarmos todos de braços cruzados.

— Vá feito; tendes razões a que não se resiste. Contai conosco, acudiu um aventureiro.

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