A capacidade da segunda vista varia desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. No estado rudimentar, ela dá a certas pessoas o tato, a perspicácia, um tipo de segurança
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em seus atos que se pode chamar de precisão do golpe de vista moral. Mais desenvolvida, ela desperta os pressentimentos; ainda mais desenvolvida, ela mostra eventos ocorridos ou a ponto de ocorrer.
O sonambulismo natural e artificial, assim como o êxtase e a segunda vista, não são mais do que variedades ou modificações de uma mesma causa.
Esses fenômenos, do mesmo modo que os sonhos, estão na natureza; eis por que têm existido desde todos os tempos. A história nos mostra que eles foram conhecidos e até mesmo explorados desde a mais alta Antiguidade, e nisso se encontra a explicação de uma diversidade de fatos que os preconceitos fizeram com que fossem vistos como sobrenaturais.
241 – O Livro dos Espíritos
CAPÍTULO IX
INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS
NO MUNDO CORPORAL
Penetração de nosso pensamento pelos Espíritos
– Influência oculta dos Espíritos nos nossos pensamentos e ações –
Possessos – Convulsionários – Afeição dos Espíritos por certas pessoas
– Anjos guardiões. Espíritos protetores, familiares ou simpáticos –
Pressentimentos – Influência dos Espíritos sobre os acontecimentos da vida
– Ação dos Espíritos sobre os fenômenos da natureza –
Os Espíritos durante os combates – Pactos
– Poder oculto. Talismãs. Feiticeiros – Bênçãos e maldiçõesPenetração de nosso pensamento pelos Espíritos
456. Os Espíritos veem tudo o que nós fazemos?
“Eles podem ver, já que vocês estão constantemente rodeados deles.
Porém, cada um só vê as coisas nas quais presta atenção, pois para aquelas coisas que são irrelevantes para o Espírito, ele não se ocupa com estas.”
457. Os Espíritos podem conhecer nossos pensamentos mais ocultos?
“Muitas vezes eles conhecem o que vocês desejariam ocultar até de vocês mesmos. Nem atos e nem pensamentos podem ser escondidos deles.”
457-a. — Assim sendo, seria mais fácil escondermos uma coisa de uma pessoa viva, já que não podemos esconder dessa mesma pessoa depois de sua morte?
“Certamente, e quando se julgam muito bem escondidos, com
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frequência vocês têm uma multidão de Espíritos ao vosso lado que os observam.”
458. O que pensam de nós os Espíritos que nos rodeiam e nos observam?
“Isso depende: os Espíritos levianos riem das pequenas travessuras que eles lhes pregam e zombam de vossas impaciências; os Espíritos sérios lamentam vossos reveses e procuram vos ajudar.”
Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos 459. Os Espíritos influenciam nossos pensamentos e nossas ações?
“A esse respeito, a influência deles é maior do que vocês imaginam, pois frequentemente são eles que vos dirigem.”
460. Temos pensamentos que são propriamente nossos e outros que nos são sugeridos?
“Vossa alma é um Espírito que pensa; vocês não ignoram que vários pensamentos lhes venham ao mesmo tempo, sobre um mesmo assunto, e muitas vezes bem contrários uns aos outros. Pois bem! Sempre há neles os vossos e os nossos. É isso o que lhes põe na incerteza, porque vocês têm em vosso íntimo duas ideias que se contradizem.”
461. Como distinguir os pensamentos que são propriamente nossos daqueles que nos são sugeridos?
“Quando um pensamento é sugerido, é como uma voz que lhes fala.
Geralmente, os pensamentos próprios são os de primeiro impulso. De resto, não há grande importância para vocês nessa distinção, e muitas vezes é útil que não saibam distingui-los: assim o homem age mais livremente, e caso decida fazer o bem, ele o fará mais voluntariamente; se tomar o mau caminho, ele só terá mais responsabilidade por isso.”
462. Os homens inteligentes e geniais sempre tiram suas ideias do seu
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próprio íntimo?
“Algumas vezes as ideias vêm do próprio Espírito deles, porém tantas outras vezes elas lhes são sugeridas por outros Espíritos que os julgam capazes de compreendê-las e dignos de as transmitir. Quando tais homens não encontram ideias em si mesmos, eles apelam para a inspiração; é uma evocação que eles fazem sem suspeitarem disso.”
Se fosse útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos próprios pensamentos daqueles que nos são sugeridos, Deus nos teria fornecido tal meio, como nos concedeu o de distinguirmos o dia da noite. Quando uma coisa fica vaga, é que assim deve ser para o nosso bem.