Gozamos de capacidades que vocês não podem compreender, mas fiquem certos de que Deus não nos impôs uma tarefa acima das nossas forças nem vos abandonou a sós na Terra sem amigos e sem amparo. Cada anjo guardião tem o seu protegido, pelo qual ele cuida como um pai vela pelo seu filho:
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alegra-se quando o vê no bom caminho e geme quando os seus conselhos são desprezados.
“Não temam por nos incomodar com suas questões. Ao contrário, procurem estar sempre em relação conosco: vocês ficarão mais fortes e mais venturosos. São essas comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem com que todos os homens sejam médiuns, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e que se disseminarão igual um oceano sem margens, para recolher a incredulidade e a ignorância. Homens instruídos, instruam; homens de talento, eduquem vossos irmãos. Não imaginem que obra vocês fazem desse modo: é a obra do Cristo, a que Deus impõe a vocês. Por que Deus lhes concedeu a inteligência e a ciência senão para repartirem com os seus irmãos, para adiantá-los na estrada da alegria e da felicidade eterna?”
SÃO LUÍS, SANTO AGOSTINHO.
A doutrina dos anjos guardiões velando pelos seus protegidos, apesar da distância que separa os mundos, não tem nada que deve surpreender. Ao contrário, é grande e sublime. Não vemos na Terra um pai velar pelo filho, embora esteja longe dele, e lhe auxiliar com seus conselhos por correspondência? O que então haveria de espanto que os Espíritos possam guiar aqueles a quem tomaram sob sua proteção, de um mundo para outro, uma vez que para eles a distância que separa os mundos é menor do que aquela que separa os continentes na Terra? Além disso, eles não dispõem do fluido universal, que entrelaça todos os mundos e os torna solidários, veículo imenso da transmissão dos pensamentos, como o ar é, para nós, o veículo da transmissão do som?
496. O Espírito que abandona o seu protegido, não lhe fazendo mais o bem, pode lhe fazer mal?
“Os bons Espíritos jamais fazem o mal; eles deixam que o façam aqueles que tomam o seu lugar. Vocês então acusam a sorte dos males que lhes oprimem, sendo que é culpa de vocês mesmos.”
497. O Espírito protetor pode deixar o seu protegido à mercê de outro Espírito que poderia lhe querer fazer mal?
“Há uma união dos maus Espíritos para neutralizar a ação dos bons, mas
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se o protegido assim o quiser ele restituirá toda a força ao seu bom Espírito. O
bom Espírito talvez encontre noutro lugar uma boa vontade à qual possa ajudar; ele então a aproveita enquanto aguarda o retorno junto ao seu protegido.”
498. Quando o Espírito protetor deixa seu protegido se transviar na vida, é por impotência de sua parte para lutar contra outros Espíritos maldosos?
“Não é porque não possa, mas porque não quer: seu protegido sai das provas mais perfeito e instruído. Ele o auxilia com seus conselhos através dos bons pensamentos que lhe sugere, porém que infelizmente nem sempre são acatados. Não é mais do que a fraqueza, o desleixo ou o orgulho do homem o que dá força aos maus Espíritos; o poder deles sobre vocês vem exatamente do fato de vocês não oporem resistência a eles.”
499. O Espírito protetor está constantemente com o seu protegido? Não haveria alguma circunstância em que, sem o abandonar, ele o perca de vista?
“Há circunstâncias em que a presença do Espírito protetor não é necessária junto ao seu protegido.”
500. Chega o momento em que o Espírito não precise mais do anjo guardião?
“Sim, quando ele tiver chegado ao grau de poder conduzir a si mesmo, como chega o momento em que o estudante não tem mais precisão do professor. Porém isso não acontece no vosso mundo.”
501. Por que a ação dos Espíritos sobre a nossa existência é oculta e por que, quando nos protegem, eles não o fazem de uma maneira ostensiva?
“Se vocês contassem com o apoio deles, não agiriam por si mesmos e o vosso Espírito não progrediria. Para que possa avançar, ele precisa de experiência, e muitas vezes é preciso que a adquira por conta própria; é necessário que exercite suas forças, sem o que, seria como uma criança a quem não deixamos andar sozinha. A ação dos Espíritos que querem bem a vocês é sempre regulada de maneira a lhes deixar o seu livre-arbítrio, pois se vocês não tivessem responsabilidade, não avançariam no caminho que deve lhes conduzir a Deus. Não vendo sua sustentação, o homem se entrega às suas
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próprias forças. Entretanto, seu guia cuida dele, e de tempos em tempos clama para que ele tome cuidado com o perigo.”
502. O Espírito protetor que consegue trazer o seu protegido para o bom caminho tira algum proveito disso para si mesmo?
“É um mérito que lhe é levado em conta, seja para o seu próprio avanço, seja para sua felicidade. ele fica feliz quando vê seus esforços coroados de sucesso; ele triunfa com isso como um educador triunfa com os bons êxitos do seu aluno.”
502-a. — Será ele o responsável se não conseguir isso?
“Não, pois ele fez o que dependia dele.”
503. O Espírito protetor que vê seu protegido seguir o mau caminho, malgrado seus avisos, sofre com isso? Para ele, isso não é uma causa de perturbação da sua felicidade?
“Ele sofre com os erros do seu protegido e lamenta por isso. Contudo, tal aflição não tem as angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal e que o que não se faz hoje será feito amanhã.”
504. Poderemos sempre saber o nome do Espírito nosso protetor, ou anjo guardião?
“Como querem saber nomes que não existem para vocês? Supõem então que entre os Espíritos só existem aqueles que vocês conhecem?”
504-a. — Como então o invocar, se o não conhecemos?
“Deem a ele o nome que quiserem — por exemplo, o de um Espírito superior por quem vocês têm simpatia ou veneração — e o vosso Espírito protetor atenderá a esse apelo, pois todos os bons Espíritos são irmãos e se ajudam entre si.”
505. Os Espíritos protetores que usam nomes conhecidos sempre são realmente aqueles das personalidades que tiveram esses nomes?
“Não, mas muitas vezes são Espíritos que são simpáticos a tais personalidades e que vêm por ordem delas. Vocês fazem questão de nomes,
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então eles tomam um que vos inspire confiança. Quando vocês não podem desempenhar uma missão pessoalmente, vocês então enviam alguém por vocês que aja em vosso nome.”
506. Quando estivermos na vida espírita, reconheceremos o nosso Espírito protetor?
“Claro, pois geralmente o conheceram antes estarem encarnados.”
507. Todos os Espíritos protetores pertencem à classe dos Espíritos superiores? Poderiam estar entre os medianos? Um pai, por exemplo, poderia se tornar o Espírito protetor de seu filho?