“Esse direito está regulado pela necessidade de prover à sua nutrição e à sua segurança; o abuso jamais constituiu um direito.”
735. O que devemos pensar da destruição que ultrapassa os limites das necessidades e da segurança? O da caça, por exemplo, quando ela não tem outra finalidade senão o prazer de destruir sem utilidade?
“Predominância da brutalidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus. Os animais só destroem para suas próprias carências, enquanto o homem — que tem o livre-arbítrio — destrói sem precisar. Ele terá que prestar contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, pois foram aos maus instintos que ele então cedeu.”
736. Os povos que têm um excessivo escrúpulo quanto à destruição dos animais terão um merecimento especial?
“É um excesso num sentimento louvável em si mesmo, mas que se torna abusivo e o seu mérito fica neutralizado por abusos de muitos outros tipos.
Neles, há mais temor supersticioso do que verdadeira bondade.”
Flagelos destruidores
737. Com que objetivo Deus fere a humanidade com flagelos destruidores?
“Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos que a destruição é necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que em cada nova existência alcançam um novo grau de perfeição? É preciso observar o objetivo para ponderar os resultados. Vocês só os apreciam do seu ponto de vista pessoal, e daí chamam de flagelos pelo prejuízo que eles causam. Mas essas convulsões são quase sempre necessárias para fazer as coisas chegarem mais rapidamente a uma ordem melhor e para realizar em apenas alguns anos o que exigiria muitos séculos.” (Ver a questão 744.)
339 – O Livro dos Espíritos
738. Para o melhoramento da humanidade, Deus não poderia empregar outros recursos em vez dos flagelos destruidores?
“Sim, e ele os emprega todos os dias, já que deu a cada qual os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. É o homem que não aproveita esses meios; é preciso castigá-lo em seu orgulho e fazê-lo sentir sua fraqueza.”
738-a. — Mas nesses flagelos o homem de bem sucumbe tanto quanto o perverso; é justo isso?
“Durante a vida, o homem relaciona tudo ao seu corpo, mas depois da morte ele pensa de maneira diferente, e como temos dito, a vida do corpo é uma coisa bem pequena. Um século no vosso mundo é um
relâmpago na eternidade. Logo, os sofrimentos do que vocês chamam de alguns dias ou de alguns meses não duram nada; é um ensinamento para vocês, e que lhes servirá no futuro. Os Espíritos — eis o mundo real
— preexistem e sobrevivem a tudo (Ver a questão 85); são esses os filhos de Deus e o propósito de toda a sua solicitude; os corpos são meros disfarces sob os quais eles aparecem no mundo. Nas grandes calamidades que dizimam os homens, é semelhante a um exército que, durante a guerra, vê seus uniformes gastos, rotos ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com suas fardas.”
738-b. — Mas nem por isso as vítimas desses flagelos deixam de serem vítimas.
“Se considerassem a vida como ela é e quão pouca coisa ela significa com relação ao infinito, menos importância lhe dariam. Essas vítimas encontrarão em outra existência uma ampla compensação pelos seus sofrimentos — se souberem suportá-los sem murmurar.”
Que a morte chegue por um flagelo ou por uma causa comum, ninguém por isso deixa de morrer quando soar a hora da partida. A única diferença é que um número maior parte de uma só vez.
Se pudéssemos nos elevar pelo pensamento de maneira a alcançar a humanidade e a abrangê-la completamente, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais do que tempestades passageiras na destinação do mundo.
340 – Allan Kardec
739. Os flagelos destruidores têm uma utilidade do ponto de vista físico, malgrado os males que eles ocasionam?
“Têm. Muitas vezes eles mudam a estrutura de uma região, mas o benefício que disso resulta geralmente só é percebido pelas gerações futuras.”
740. Para o homem, os flagelos não seriam igualmente provas morais que o colocam diante das mais duras necessidades?
“Os flagelos são provações que fornecem ao homem a ocasião de exercitar sua inteligência, de mostrar sua paciência e sua resignação ante a vontade de Deus, e o permitem lhe manifestar seus sentimentos de abnegação, de desprendimento e de amor ao próximo — se não for dominado pelo egoísmo.”
741. É permitido ao homem combater os flagelos que o afligem?
“Em parte, sim, mas não como geralmente se entende. Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem; na medida em que adquire conhecimentos e experiência ele pode combatê-los, isto é, preveni-los, se souber procurar as causas. Contudo, entre os males que afligem a humanidade há alguns de caráter geral que estão nos decretos da Providência e dos quais cada indivíduo recebe mais ou menos o contragolpe; a esses o homem nada pode opor, a não ser sua resignação ante a vontade de Deus. E
ainda, às vezes esses mesmos males são agravados pela vossa indolência.”
Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, deve-se colocar na primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais às produções da terra. Mas, através da ciência, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamento da agricultura, na rotatividade da exploração do solo e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas, o homem não encontrou os meios de neutralizar ou pelo menos de atenuar consideravelmente os desastres? Certas regiões, antigamente assoladas por terríveis flagelos, não estão preservadas hoje?
O que o homem não fará então pelo seu bem-estar material quando souber aproveitar todos os recursos de sua inteligência e quando, aos cuidados de sua conservação pessoal, souber aliar o sentimento da verdadeira caridade para com seus semelhantes? (Ver a questão 707.)
341 – O Livro dos Espíritos
Guerras
742. Qual é a causa que leva o homem à guerra?
“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual, e satisfação das paixões. No estado de barbárie, os povos só conhecem a lei do mais forte. É por isso que para eles a guerra é uma situação normal. À medida que o homem progride, a guerra se torna menos frequente, porque ele evita as suas causas, e quando ela é necessária, ele sabe lhe adicionar humanismo.”
743. Algum dia a guerra desaparecerá da face da Terra?
“Sim, quando os indivíduos compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então, todos os povos serão irmãos.”
744. Qual seria o objetivo da Providência tornando a guerra necessária?
“A liberdade e o progresso.”
744-a. — Se a guerra deve ter por efeito chegar à liberdade, como se explica que ela geralmente tenha por fim e por resultado a escravidão?
“Escravidão momentânea, para esmagar os povos, a fim de fazê-los avançar mais depressa.”