759. Qual o valor do que chamamos de ponto de honra em matéria de duelo?
“Orgulho e vaidade: duas chagas da humanidade.”
759-a. — Porém, não há casos em que a honra se acha verdadeiramente comprometida e em que uma recusa seria covardia?
“Isso depende dos hábitos e costumes; cada país e cada século têm uma maneira de ver diferente a esse respeito. Quando os homens forem melhores e estiverem mais adiantados em moral eles compreenderão que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que não é matando e nem se deixando matar que se reparar uma questão.”
Há mais grandeza e verdadeira honra em se confessar culpado, se estiver errado, ou em perdoar, se estiver com a razão. E em todos os casos desprezar os insultos que não podem nos atingir.
345 – O Livro dos Espíritos
Pena de morte
760. A pena de morte desaparecerá algum dia da legislação humana?
“A pena de morte desaparecerá incontestavelmente, e sua eliminação marcará um progresso na humanidade. Quando os homens estiverem mais esclarecidos a pena de morte será completamente abolida na Terra; os homens não precisarão mais serem julgados pelos homens. Refiro-me a uma época ainda muito distante de vocês.”
Sem dúvida, o progresso social ainda deixa muito a desejar, mas seríamos injustos com a sociedade moderna se não víssemos nela um progresso nas restrições postas à pena de morte nos povos mais adiantados, e na natureza dos crimes aos quais se limita a sua aplicação. Se compararmos as garantias com que, entre esses mesmos povos, a justiça se esforça para cercar o acusado, a humanidade com que ela usa em favor dele — até mesmo quando o reconhece culpado —, com o que se praticava em tempos que ainda não vão muito longe, não poderemos negar a via do progresso pela qual a humanidade está marchando.
761. A lei de conservação confere ao indivíduo o direito de preservar a própria vida. Não estaria ele fazendo uso desse direito quando elimina da sociedade um membro perigoso?
“Há outros meios de se preservar do perigo sem matar. É preciso, aliás, abrir ao criminoso a porta do arrependimento — e não a fechar.”
762. Se a pena de morte pode ser banida das sociedades civilizadas, não teria sido ela uma necessidade em épocas menos adiantadas?
“Necessidade não é o termo; o homem julga uma coisa necessária sempre quando não descobre nada melhor. À proporção que ele se instrui, então compreende melhor o que é justo ou injusto, e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância em nome da justiça.”
763. A restrição dos casos em que a pena de morte é aplicada significa um indício de progresso na civilização?
“Você pode duvidar disso? Teu Espírito não se revolta ao ler o relato das carnificinas humanas que se faziam outrora em nome da justiça e, não raro,
346 – Allan Kardec
em honra da Divindade? Das torturas que se infligiam ao condenado e até mesmo ao mero acusado, para lhe arrancar — pelo excesso de sofrimentos —
a confissão de um crime que muitas vezes ele não tinha cometido? Pois bem!
Se você tivesse vivido nessas épocas, teria achado tudo isso natural e talvez você mesmo, como juiz, tivesse feito tanto quanto. Assim é que aquilo que parecia justo numa determinada época parecerá bárbaro em outra. Só as leis divinas são eternas; as leis humanas mudam mediante o progresso; elas continuarão a mudar até que sejam postas em harmonia com as leis divinas.”
764. Disse Jesus: Quem matou com a espada morrerá pela espada. Estas palavras não significam a consagração da pena de talião? 59 E assim, a morte infligida ao homicida não é uma aplicação dessa pena?
“Tomem cuidado! Vocês têm-se enganado a respeito dessas palavras
assim como acerca de muitas outras. A pena de talião é a justiça de Deus; é ele quem a aplica. Todos vocês sofrem essa pena a cada instante, pois são punidos por aquilo que tenham pecado — nesta vida ou em outra. Aquele que tenha feito seus semelhantes sofrerem ficará numa posição em que ele próprio sofrerá o mesmo que tenha causado. Este é o sentido das palavras de Jesus, que vos disse também: Perdoem vossos inimigos. E vos ensinou a pedir a Deus que perdoe as vossas ofensas conforme vocês também tenham perdoado, isto é, na mesma proporção em que perdoaram. Entendam bem!”
765. O que se deve pensar da pena de morte infligida em nome de Deus?
“É o homem tomar o lugar de Deus na justiça. Os que assim procedem mostram o quanto eles estão longe de compreender Deus e que muito ainda têm o que expiar. A pena de morte é um crime quando aplicada em nome de Deus, e aqueles que a infligem ficam responsabilizados por ela como em outros tantos assassinatos.”
59 Pena ou lei de talião (do latim talis = tal, o mesmo, idêntico): condenação imposta a uma pessoa proporcionalmente ao dano que tenha causado a alguém. — N. T.
347 – O Livro dos Espíritos
CAPÍTULO VII
LEI DE SOCIEDADE
Necessidade da vida social – Vida de isolamento. Voto de silêncio
– Laços de família
Necessidade da vida social
766. A vida social faz parte da natureza?
“Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade, e não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias ao relacionamento social.”
767. O isolamento absoluto é contrário à lei da natureza?
“Sim, pois os homens buscam instintivamente a sociedade e todos devem colaborar para o progresso auxiliando-se mutuamente.”
768. Buscando a sociedade, o homem não faz mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou nesse sentimento há alguma finalidade providencial mais geral?
“O homem deve progredir; isolado ele não consegue porque não tem todas as faculdades; ele precisa do contato com os outros indivíduos. No isolamento, ele se embrutece e atrofia.”
Nenhum homem tem as faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, assegurando-lhes o bem-estar e o progresso. Por isso é que, tendo necessidade uns dos outros, eles são feitos para viverem em sociedade e não isolados.
348 – Allan Kardec