Que horror!
—
Não que a Micaela era doida!
Coitada! Tinha casado com um alferes, um homem que a espancava. Estava cheia de filhos. .
—
Isto é um vale de lágrimas! — resumiu Leopoldina, recostando-se.
Estava loquaz. Servia-se muito, com gula; depois picava um bocadinho na ponta do garfo, provava, deixava, punha-se a comer côdeas de pão que barrava de manteiga. E deleitava-se nas recordações do colégio! Que bom tempo!
—
Lembraste quando estivemos de mal?
Luísa não se lembrava. .
—
Por tu teres dado um beijo na Teresa, que era o meu sentimento —
disse Leopoldina.
Puseram-se a falar dos sentimentos. Leopoldina tivera quatro; a mais bonita era a Joaninha , a Freitas. Que olhos! E que bem feita! Tinha-lhe feito a corte um mês.
—
Tolices! — disse Luísa corando um pouco.
—
Tolices! Por quê?
Ai! Era sempre com saudades que falava dos sentimentos. Tinham sido as primeiras sensações, as mais intensas. Que agonia de ciúmes! Que delírio de reconciliações! E os beijos furtados! E os olhares! E os bilhetinhos, e todas as palpitações do coração, as primeiras da vida!
—
Nunca — exclamou —, nunca, depois de mulher, senti por um homem o que senti pela Joaninha!. . Pois podes crer..
Um olhar de Luísa deteve-a. — A Juliana! Diabo! Tinha-se esquecido!
Constrangia-se muito, com o seu sorrisinho torcido, a figura de peito chato, o tique-taque dos metálico dos tacões.
—
E que foi feito da Joaninha? — perguntou Luísa.
—
Morrera tísica — e a voz de Leopoldina fez-se saudosa. Uma doença bem triste, não era? Mas não lhe tinha medo, ela! Batia no seio, bem formado:
—
Isto é rijo, isto é são!
Juliana saiu, e Luísa observou logo:
—
Vê no que falas, filha! Tem cuidado!
Leopoldina curvou-se:
—
Ah! A respeitabilidade da casa! Tens razão! — murmurou.
E como Juliana entrava com o bacalhau assado, fez-lhe uma ovação!
—
Bravo! Está soberbo!
Tocou-lhe com a ponta do dedo, gulosa; vinha louro, um pouco toscado, abrindo em lascas.
—