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Isabel tomou-lhe as mãos com um movimento arrebatado; seus olhos cintilavam com um fogo estranho; suas faces estavam incendiadas de vivo rubor.

O moço procurou tirar as mãos daquela pressão ardente e apaixonada: — Isabel, disse ele com uma doce exprobração; quereis que falte à minha palavra, que recue diante de um perigo?

— Não! Nunca eu vos pediria semelhante coisa. Era preciso que não vos conhecesse, e que não... vos amasse!...

— Mas então deixai-me partir.

— Tenho uma graça a suplicar-vos.

— De mim?... Neste momento?

— Sim! Neste momento!... Apesar do que me dizíeis há pouco, apesar do vosso heroísmo, sei que caminhais a uma morte certa, inevitável.

A voz de Isabel tornou-se balbuciante:

— Quem sabe... se nos veremos mais neste mundo?!

— Isabel!... disse o moço querendo fugir para evitar a comoção que se apoderava dele.

— Prometestes fazer-me a graça que vos pedi.

— Qual?

— Antes de partir, antes de me dizer adeus para sempre...

A moça fitou no cavalheiro um olhar que fascinava.

— Falai!... Falai!...

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— Antes de nos separarmos, eu vos suplico, deixai-me uma lembrança vossa!...

Mas uma lembrança que fique dentro de minha alma!

E a menina caiu de joelhos aos pés de Álvaro, ocultando seu rosto que o pudor revoltado em luta com a paixão cobria de um brilhante carmim.

Álvaro ergueu-a confusa e vergonhosa do que tinha feito, e chegando seus lábios ao ouvido proferiu, ou antes, murmurou uma frase.

O semblante de Isabel expandiu-se; uma auréola de ventura cingiu a sua fronte; seu seio dilatou-se e respirou com a embriaguez do coração feliz.

— Eu te amo!

Era a frase que Álvaro deixara cair na sua alma, e que a enchia toda como um eflúvio celeste, como um canto divino que ressoava nos seus ouvidos e fazia palpitar todas as suas fibras.

Quando ela saiu deste êxtase, o moço tinha saído da sala, e unia-se aos seus companheiros prontos a marchar.

Foi nessa ocasião que Cecília, chegando imprudentemente à paliçada, fez a Peri um aceno que lhe dizia esperasse.

A pequena coluna partiu comandada por Álvaro e por Aires Gomes, que depois de três dias não deixava o seu posto dentro do gabinete do fidalgo.

Quando os bravos combatentes desapareceram na floresta, D. Antônio de Mariz recolheu-se com sua família para a sala, e sentando-se na sua poltrona esperou tranqüilamente. Não mostrava o menor temor de ser atacado pelos aventureiros revoltados, que estavam a alguns passos de distancia apenas, e que não deixariam de aproveitar um ensejo tão favorável.

D. Antônio tinha a este respeito uma completa segurança; tendo fechado as portas e examinado a escorva de suas pistolas, recomendou silêncio a fim de que nenhum rumor lhe escapasse.

Vigilante e atento, o fidalgo refletia ao mesmo tempo sobre o fato que se acabava de passar, e que o tinha profundamente impressionado.

Conhecia Peri e não podia compreender como o índio, sempre tão inteligente e tão perspicaz, se deixara levar por uma louca esperança a ponto de ir ele só atacar os selvagens.

A extrema dedicação do índio por sua senhora, o desespero da posição em que se achavam, podia explicar essa alucinação, se o fidalgo não soubesse quanto Peri tinha a calma, a força e o sangue-frio que tornam o homem superior a todos os perigos. O resultado de suas reflexões foi que havia no procedimento de Peri alguma coisa que não estava clara e que devia explicar-se mais tarde.

Ao passo que ele se entregava a esses pensamentos, Álvaro tinha feito uma volta, e favorecido pela festa dos selvagens se aproximara sem ser percebido.

Quando avistou Peri a algumas braças de distancia, o velho cacique levantava a tangapema sobre a sua cabeça.

O moço levou a clavina ao rosto; e a bala sibilando foi atravessar o crânio do selvagem.

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IV REVELAÇÃO

Apenas Álvaro, com a chegada dos seus companheiros, viu-se livre dos inimigos que o atacavam, voltou a Peri, que assistia imóvel a toda esta cena.

— Vinde! disse o moço com autoridade.

— Não! respondeu o índio friamente.

— Tua senhora te chama!

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