64-a. — Parece resultar daí que a vitalidade não tem seu princípio num agente primitivo distinto, e sim numa propriedade especial da matéria universal, devido a certas modificações.
“Isto é a consequência do que dissemos.”
65. O princípio vital reside em algum dos corpos que conhecemos?
“Sua fonte está no fluido universal; é o que chamam de fluido magnético ou fluido elétrico animalizado. Ele é o intermediário, o elo entre o espírito e a matéria.”
66. O princípio vital é o mesmo para todos os seres orgânicos?
“Sim, modificado segundo as espécies. É o que lhes dá movimento e atividade, e os distingue da matéria inerte, pois o movimento da matéria não é a vida. Ela recebe esse movimento, ela não o dá.”
67. A vitalidade é uma propriedade permanente do agente vital, ou essa vitalidade se desenvolve apenas pelo funcionamento dos órgãos?
“Ela só se desenvolve com o corpo. Não dissemos que esse agente sem a matéria não é a vida? É preciso a união das duas coisas para produzir a vida.”
67-a. — Poderíamos dizer que a vitalidade está em estado latente, quando o agente vital não está unido ao corpo?
“Sim, é isso.”
O conjunto dos órgãos constitui um tipo de mecanismo que recebe sua
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impulsão da atividade íntima ou princípio vital que existe entre eles. O princípio vital é a força motora dos corpos orgânicos. Ao mesmo tempo em que o agente vital dá impulsão aos órgãos, a ação dos órgãos mantém e desenvolve a atividade do agente vital, quase como o atrito desenvolve o calor.
A vida e a morte
68. Qual é a causa da morte dos seres orgânicos?
“Esgotamento dos órgãos.”
68-a. — Poderíamos comparar a morte à suspensão do movimento numa máquina desorganizada?
“Sim; se a máquina estiver mal montada, o mecanismo se quebra.
Se o corpo estiver enfermo, a vida se esvai.”
69. Por que uma lesão do coração, antes que uma lesão de outros órgãos, causa a morte?
“O coração é uma máquina de vida. Porém, o coração não é o único órgão cuja lesão ocasiona a morte; ele não é mais do que uma das peças essenciais.”
70. Em que se torna a matéria e o princípio vital dos seres orgânicos depois da sua morte?
“A matéria inerte se decompõe e forma novos corpos; o princípio vital retorna à massa.”
Estando morto o ser orgânico, os elementos de que é formado passam por novas combinações que constituem novos seres; estes haurem da fonte universal o princípio da vida e da atividade, absorvem-no e o assimilam, para novamente o devolverem a essa fonte quando deixarem de existir.
Por assim dizer, os órgãos estão impregnados desse fluido vital. Esse fluido dá a todas as partes do organismo uma atividade que opera a aproximação deles em certas lesões, e restabelece as funções momentaneamente suspensas. Contudo, quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente alterados, o fluido vital fica impotente para lhes transmitir o movimento da vida, e o ser morre.
85 – O Livro dos Espíritos
Os órgãos reagem mais ou menos necessariamente uns sobre os outros; é a harmonia do seu conjunto que resulta sua ação recíproca. Quando uma causa qualquer destrói essa harmonia, suas funções cessam como o movimento de um mecanismo cujas peças essenciais ficam desarranjadas. Tal um relógio gasto pelo uso ou que se quebrou por acidente, e que a força motriz fica impotente para fazê-lo funcionar.
Temos uma imagem mais exata da vida e da morte num aparelho elétrico.
Como todos os corpos da natureza, esse aparelho, oculta a eletricidade em estado latente. Os fenômenos elétricos só se manifestam quando o fluido é posto em atividade por uma causa especial: podemos dizer então que o aparelho está vivo. A causa da atividade vindo a cessar, o fenômeno cessa: o aparelho volta ao estado de inércia. Os corpos orgânicos seriam, assim, uma espécie de pilhas ou aparelhos elétricos nos quais a atividade do fluido determina o fenômeno da vida: a extinção dessa atividade produz a morte.
A quantidade de fluido vital não é absoluta em todos os seres orgânicos; ela varia conforme as espécies e não é constante — seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espécie. Há alguns que estão, por assim dizer, carregados desse fluido, enquanto outros o possuem em quantidade apenas suficiente. Com isso, para alguns a vida é mais ativa, mais resistente e de certo modo superabundante.
A quantidade de fluido vital se esgota; ela pode se tornar insuficiente para a conservação da vida, se não for renovada pela absorção e assimilação das substâncias que o contêm.
O fluido vital se transmite de um indivíduo para outro indivíduo. Aquele que tiver mais fluido pode dá-lo a um que o tenha menos e em certos casos prolongar a vida prestes a se extinguir.
Inteligência e instinto
71. A inteligência é um atributo do princípio vital?
“Não, pois as plantas vivem e não pensam: elas não têm mais do que a vida orgânica. A inteligência e a matéria são independentes, porque um corpo pode viver sem a inteligência; mas a inteligência só pode se manifestar por meio dos órgãos materiais; é necessária a união do espírito para
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intelectualizar a matéria animalizada.”
A inteligência é uma capacidade especial típica de certas classes de seres orgânicos e que, com o pensamento, lhes dá a vontade de agir, a consciência da sua existência e de sua individualidade, assim como os meios de estabelecerem relações com o mundo exterior e de proverem às suas necessidades.
Podemos distingui-la assim: 1°) os seres inanimados, formados só de matéria, sem vitalidade nem inteligência: são os corpos brutos; 2°) os seres animados que não pensam, formados de matéria e dotados de vitalidade, mas desprovidos de inteligência; 3°) os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados de vitalidade e tendo a mais um princípio inteligente que lhes concede a capacidade de pensar.
72. Qual é a fonte da inteligência?