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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas do Arrenegado. Um homem é escuro, no meio do luar da lua –

lasca de breu. Dentro de mim eu tenho um sono, e mas fora de mim eu vejo um sonho – um sonho eu tive. O fim de fomes. Ei, boto machado em toda árvore. Eu caminhei para diante. Em, ô gente, eu dei mais um passo à frente: tudo agora era possível.

Não era de propósito, o senhor não julgue. Nem não fizeram espantos. Não exclamei, não pronunciei; só disse.

- “Ah, agora quem aqui é que é o Chefe?”

Só perguntei. Sei por quê? Só por saber, e quem-sabe por excessos daquela minha mania derradeira, de me comparecer com as doidivãs bestagens, parlapatal. De forma nenhuma eu não queria afrontar ninguém. Até com preguiça eu estava. A verdade, porém, que um tinha de ser o chefe. Zé Bebelo ou João Goanhá.

Um para o outro olharam.

- “Agora quem é que é o Chefe?”

Somente eu estava por cima da surpresa deles? Zé Bebelo –

o pensante, soberbo e opinioso. João Goanhá – duro homem tão simples, vindo por meio de dificuldades e distâncias, desde a outra banda do rio, caçar a lei da companhia da gente, como um

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas costume necessário, que sem isso ele não conseguia direito se pertencer. Com meus olhos, tomei conta.

- “Quem é que é o Chefe?!” – repeti.

Me olharam. Saber, não soubessem, não podiam como responder: porque nenhum deles não era. Zé Bebelo ainda fosse?

Esse pardejou. E, o João Goanhá, eu vi aquele mestre quieto se mexer, em quente e frio, diante das minhas vistas-nem não tinha ossos: tudo nele foi encurtando medidagesto, fala, olhar e estar.

Nenhum deles. E eu – ah – eu era quem menos sabia – porque o Chefe já era eu. O Chefe era eu mesmo! Olharam para mim.

- “Quem é qu’...”

E... Ao que o pessoal, os companheiros todos, convocados, fechavam roda. Eu felão. Não me entendessem? Foi que alguns dos homens rosnaram. E foi esse Rasga-em-Baixo, o principal deles, esse, pelo que era, pelo visto, oculto inimigo meu – que buliu em suas armas... Sanha aos crespos, luziu faca, no a-golpe...

Meu revólver falou, bala justa, o Rasga-em-Baixo se fartou no chão, semeado, já sem ação e sem alma nenhuma dentro. E aí o irmão dele, José Félix: ele tremeu muito lateral; livrou o ar de sua pessoa; outro tiro eu também tinha dado...

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas

- “ ... é o Chefe?!...”

Ato de todos quietos permanecidos, esbarrados com tanta singelez de choques. Ah, eu, meu nome era Tatarana! E

Diadorim, jaguarado, mais em pé que um outro qualquer, se asava e abava, de repor o medo mor. Ele veio marechal. Se viram, se sentiram, decerto que acertaram: pelos altos de nós dois; e porque logo aí Alaripe, o Acauã, o Fafafa, o Nélson, Sidurino, Compadre Ciril, Pacamã-de-Presas – e outros e outros-já formavam do lado da gente. – Tenho de chefiar! – eu queria, eu pensava. Isso eu exigia. Assim. João Goanhá se riu para mim.

Zé Bebelo sacudiu uns ombros.

Ali, era a hora. E eu frentemente endireitei com Zé Bebelo, com ele de barba a barba. Zé Bebelo não conhecia medo. Ao então, era um sangue ou sangues, o etcétera que fosse. Eu não aceitava muita parlagem: - “Quem é que é o Chefe?” – eu quis.

Se quis, foi com muita serenidade. Zé Bebelo retardou. Eu social, encostado. Conheci que ele tardava e pensava, para ver o que fazer mais vagarosamente.

- “Quem é-que?” – eu brando apertei.

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas Eu sabia do respirar de todos. Durasse mais, aquilo eu já largava, por me cansar, por estar achando cacete. Minha vontade estroina de paliar: – Seu Zé Bebelo, velho, tu me desculpe... – eu calei. Zé Bebelo se encolheu um pouco, só. Aí ele não tremeu, no sucinto dos olhos.

- “A rente, Riobaldo! Tu o chefe, chefe, é: tu o Chefe fica sendo... Ao que vale!...” – ele dissezinho fortemente, mesmo mudado em festivo, glo riando um fervor. Mas eu temi que ele chorasse. Antes, em rosto de homem e de jagunço, eu nunca tinha avistado tantas tristezas.

- “Sendo vós, companheiros...” – eu falei para em volta.

Tantos, tantos homens, os nos rifles, e eles me aceitavam.

Assim aprovaram. O Chefe Riobaldo. Aos gritos, todos aprovavam. Rejuravam, a pois. A esses resultados. No que eram com solenidade, sinceridade. Tudo dado em paz. Só aqueles dois amaldiçoados irmãos, baldeados mortos, na ponta de unha. Ali, enterrar aqueles dois seria faltar a meu respeito. Amém. Tudo me dado. O senhor, mire e veja, o senhor: a verdade instantânea dum fato, a gente vai departir, e ninguém crê. Acham que é um falso narrar. Agora, eu, eu sei como tudo é: as coisas que acontecem, é porque já estavam ficadas prontas, noutro ar, no sabugo da unha;

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas e com efeito tudo é grátis quando sucede, no reles do momento.

Assim. Arte que virei chefe. Assim exato é que foi, juro ao senhor. Outros é que contam de outra maneira.

Ao fim, depois que João Goanhá me aprovou, revi os aspectos de Zé Bebelo. Acertar com ele.

- “O senhor, agora...” – eu quis dizer.

- “Não, Riobaldo...” – ele me atalhou. - “Tenho de tanger urubu, no m’embora. Sei não ser terceiro, nem segundo. Minha fama de jagunço deu o final...”

Daí, riu, e disse, mesmo cortês: - “Mas, você é o outro homem, você revira o sertão... Tu é terrível, que nem um urutu branco...”

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