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Nunca ia que me não desse os seus dez tostões, às vezes meia libra. Ai, devo dize-lo, foi ele que me ajudou para o meu vestido de seda! Este agora!. . E um fedelho. Eu nem sei como a senhora suporta aquilo! E amarelado, enfezado!

Aquilo pode prestar para nada!

Juliana disse então:

Pois olhe, Sra. Justina, eu agora é que começo a considerar: é onde se está bem, é em casas em que há podres! Encontrei ontem a Agostinha, a que está em casa do comendador, ao Rato. . Pois senhor, não se imagina. É tudo o que se pode! Tudo! Anel, vestido de seda, sombrinha, chapéu! E de roupa

branca diz que é um enxoval. E tudo o coiceiro, o que está com a ama. E

pelas festas sua moeda. Diz que é um homem rasgado. Ela também, verdade seja, tem um trabalhão: fá-lo entrar pelo jardim, e para o fazer sair tem de esperar. .

Ah, lá não! — acudiu a Justina. — Lá é pela escada.

Riram baixinho, saboreando o escândalo.

Génios. . — disse Juliana.

Ai, lá isso, o nosso tem estômago — afirmou Justina. — Encontram na escada, e tanto se lhe dá. .

E muito afetuosamente, arranjando o xale:

E adeusinho, que se faz tarde, Sra. Juliana. Ela vem hoje cá jantar, a senhora. Estive toda a manhã a engomar uma saia; desde às sete!

Também eu por cá — disse Juliana. — Elas é o que tem; quando há amante sempre há mais que engomar.

Deitam mais roupa branca, deitam — observou a Justina.

As que deitam! — exclamou Juliana, com desprezo.

Mas Luísa tocou a campainha dentro.

Adeus, Sra. Juliana — disse logo a outra, ajeitando o chapéu.

Adeus, Sra. Justina.

Foi acompanhá-la ao patamar. Beijocaram-se. Juliana voltou muito apressada ao quarto de Luísa; estava já a pé, vestindo-se, muito alegre, cantarolando.

O bilhete de Leopoldina dizia na sua letra torta: O meu marido vai hoje para o campo. Eu vou-te pedir de jantar, mas não posso ir antes das seis. Convém-te?

Ficou muito contente. Há semanas que a não via. . O que iam rir, palrar! E o Basílio devia vir às duas. Era um dia divertido, bem preenchido...

Foi logo à cozinha dar as suas ordens para o jantar. Quando descia, o criadito de Sebastião tocava a campainha, com um ramo de rosas, a saber se estava melhor.

Que sim, que sim! — gritou logo Luísa. — E para o tranquilizar, para que ele não viesse: — Que estava boa, que até talvez saísse. .

As rosas, sim, é que vinham a propósito. Foi ela mesma pô-las nos vasos, olhando sempre, o olhar vivo, satisfeita de si, da sua vida que se tornava interessante, cheia de incidentes..

E às duas horas, vestida, veio para a sala, pôs-se ao piano a estudar a Medjé de Gounod, que Basílio trouxera, e que a encantava agora muito, com os seus acentos suspirados e cálidos.

Às duas e meia, porém, começou a estar impaciente; os dedos embrulhavam-se no teclado. — "Já devia ter vindo, Basílio!" — pensava.

Foi abrir as janelas, debruçar-se para a rua; mas a criada do doutor, que costurava por dentro dos vidros, ergueu logo olhos tão sôfregos que Luísa fechou rapidamente as vidraças. Veio recomeçar a melodia, já nervosa.

Uma carruagem rolou. Ergueu-se agitada; batia-lhe o coração. A carruagem passou. .

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